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Livro do Monster

Baixe aqui o Livro do Monster. Este livro ainda não está terminado, mas decidimos publicá-lo aqui gratuitamente para permitir que você entenda todo o conceito por trás do PPP Deluxe antes de comprá-lo. A decisão de publicá-lo no blog também nos dará mais flexibilidade e rapidez para expandir e editar o livro sem depender da aprovação da Apple. O arquivo será atualizado em tempo real. Basta voltar em alguns dias para baixar a versão mais nova disponível, no mesmo lugar. 


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Jogue todos os coinflips possíveis

Isto é bem básico, portanto pode pular se você for mesmo um jogador intermediário ou se já tiver lido o livro do Perfect Preflop Play. Lá você encontrará a teoria detalhada, e o app vai te dar números concretos para usar durante a batalha contra cada leque relevante. 

Contudo, este artigo vai abordar uma mentalidade errônea, e, já que estou no assunto, vou logo dar-lhe um nome - a "mentalidade Hellmuth". Nada disto se destina a atacar Phil Hellmuth, mas o nome é apropriado. É difícil argumentar contra os 12 braceletes dele, mas tampouco devemos ficar cegos à realidade por conta deles. Muitos grandes jogadores acham que o Phil joga horrivelmente, e eu concordo. Isto se deve simplesmente ao fato de que, embora ele esteja perfeitamente ciente da matemática inerente ao jogo, ele acha que ela não se aplica a ele. 

E isso é loucura. Digo, com 13 BB ele é capaz de apostar pré-flop com QQ e largar diante de um all-in; ele larga queda de straight flushes para evitar um coinflip no flop contra uma trinca, etc. Não vou nem começar a falar de como essas jogadas são bizarras. Vou apenas te dizer que, ao menos com blinds altos, você sempre deve jogar todos os flips que puder!

Se você leu algum dos nossos artigos ou o livro do PPP, você sabe que não é bem assim que funciona, pois você sempre terá uma mão definida (sua) contra um leque (do adversário), de modo que você não analisa como, "Tenho KQo contra 55", mas sim como, "Preciso de 1,18 pra 1 com meu KQo contra o leque de 17%", que é um número que o PPP te dá em dois segundos para te ajudar a jogar com precisão em tempo real. 

Mas você continua ouvindo gente dizendo, "Eu evito coinflips", e o Hellmuth é o porta-voz dessa gente. Então, se você de alguma forma sabe que vai jogar um coinflip se entrar na mão, eis por que você sempre deve entrar.

Primeiro, num coinflip você terá ligeiramente mais ou ligeiramente menos de 50% de chance de ganhar a mão. E, por causa do jeito como funcionam as apostas no pôquer, você sempre deve aceitar as apostas em que tem um pouco mais de 50%, e quase sempre aceitar aquelas em que tem pouco menos. 

Vejamos um jogar de moeda de fato, com uma moeda mesmo. Você e seu amigo apostam $1 contra $1, cada um num lado da moeda. Ora, é óbvio que esta é uma aposta empatada. Você tem uma chance em 2 (50%) de vencer, o que empata para uma aposta de 1 pra 1 ($1 contra $1). Agora vamos te dar um par de Cinco no big blind, e JTo ao seu oponente no botão. Há antes em jogo numa mesa de oito jogadores, de modo que o pote inicial é de 2,3 BB, e ele tem 10 BB contra os 9 BB que você tem após ter pagado o big blind. Este é o duelo pré-flop mais próximo de igual no hold'em (exceto entre duas mãos idênticas). Agora o botão vai all-in por 10 BB e você sabe a mão exata dele e deve pagar mais 9 BB para permanecer na mão. Você paga?

Eis a questão, e espero que você entenda. Não importa quem você é (não, Phil, nem se for você). Há uma verdade matemática na situação. Você definitivamente deve pagar, pois mesmo que ter 55 contra JTo seja igual a ter cara contra coroa, você já não está mais levando 1 pra 1. Do jeito como o pôquer é organizado, sempre há apostas forçadas (blinds, antes) antes do começo da mão. Mas, quando você paga a aposta de alguém, você precisa casar apenas esta aposta para poder concorrer o dinheiro deixado pra trás por outrem. Neste caso, você estaria pagando 9 BB para concorrer a 12,3 BB. Porque os blinds estão tão altos frente às pilhas, o dinheiro morto é muito relevante (diferente de pagar 60 BB para concorrer a 62,3 BB), e agora você está levando monstruosos 1,37 pra ! Você empataria se tivesse apenas 42,2% de valor, portanto um call com 50% é facílimo e imperdível. A sua expectativa é terminar esta mão com 50% do pote resultante de 21,3 BB, ou 10,65 BB, em vez dos 9 BB que você reteria ao larga a sua mão. O call é uma jogada ótima, e o fold é um erro grosseiro. O Hellmuth usaria a desculpa de que está esperando por uma situação melhor, mas acredite: esta é uma situação ótima! Com este simples call você aumenta a sua pilha em 18%. Se os seus 9 BB valem alguma coisa então o 1,65 BB que você acrescenta pagando também deve ter algum valor, um valor que compensa com sobras o "risco" de ir all-in - se não, a sua lógica está toda do avesso, que nem a do Phil. 

E é isso. Você deve jogar um monte de coinflips com blinds altos, por causa do simples fato de que o pote sempre te dá mais do que 1 pra 1. Você nunca precisa ser um favorito para jogar lucrativamente!

RQ


Adaptando-se ao terceiro jogador (parte 1)


Quando você digita uma mão no Perfect Preflop Play, dois tipos de informação te são mostrados: no canto superior esquerdo, aparece a classe da mão e outras coisas relacionadas a isto; e, no resto da tela, aparecem os pot odds requeridos pela sua mão contra cada um dos leques, bem como a tradução destes pot odds em quantidades de big blinds.

O primeiro tipo de informação serve para te ajudar a decidir se você deve ir all-in com a sua mão. Por exemplo, com 10 BB faz sentido (mas sinta-se à vontade para discordar) ir all-in UTG com todas as mãos de classe A, em posição média usar mãos das classes A e B, no botão aceitar também mãos de classe C, e no small blind usar até as de classe D. Repare que este método te ajuda a ser mais coerente nas suas decisões, pois agora, com uma olhada de dois segundos, você se impede de jogar T2s no SB, pois se trata duma mão de classe E, que tem desempenho terrível contra todos os leques razoáveis com que o BB pode pagar a sua aposta. Você ainda pode variar o seu jogo, ser mais agressivo para explorar adversários que você suspeite que estão jogando amedrontados – mas com o PPP você sempre estará nadando no raso, e poderá firmar os pés no chão para ter certeza de que não está fazendo jogadas absurdas.

O segundo tipo de informação serve para te ajudar a decidir se deve pagar o all-in de outro jogador. Cada mão tem uma porcentagem de chance de vitória contra cada um dos leques, e desta porcentagem derivam pot odds mínimos exigidos para pagar, e estes pot odds se traduzem em números máximos de big blinds para cada posição da mesa. Por já ter investido a aposta obrigatória antes do início da mão, você está levando pot odds mais generosos no big blind do que no botão, e frequentemente poderá pagar lucrativamente um all-in dum jogador numa situação, sendo que seria incorreto pagar este mesmo all-in deste mesmo jogador, se a única diferença fosse a mudança da sua posição do BB para o botão.

Lógico, você quase sempre só vai precisar usar um dos dois tipos de informações fornecidos, pois as situações são exclusivas. Mas há exceções. Vamos explicá-las usando os exemplos mais simples possíveis, em que apenas um jogador entra na mão antes de você, indo all-in, e você deve decidir se joga ou não no small blind, sendo que o big blind ainda está por jogar e tem fichas bastantes para te cobrir. Os exemplos não usarão antes.

      1. Você fica all-in ao pagar


É importante estudar estas situações, porque, sempre que você não é o último jogador a agir na mão, existe a possibilidade de que a mão acabe sendo jogada por mais de dois jogadores, o que cria mais variáveis. Não obstante, conforme veremos, os resultados do PPP ainda são muito precisos – aliás, eles são até um pouco assustadoramente precisos, pois, embora possa parecer arriscado pagar uma aposta grande com um par de Cinco no SB contra um botão do qual você tenha uma boa leitura, mas ainda com o BB podendo acordar com AA, percebemos que o fato de que dois jogadores já foram all-in por um valor grande fará que o BB largue a vasta maioria de suas mãos. Ou seja, é claro que a eventualidade de o BB pegar AA diminui a sua expectativa, mas esta situação será tão rara, que ela terá um peso ínfimo sobre a equação da sua expectativa.

Vamos logo para um exemplo extremo. Você tem As8c no SB, e por algum motivo tem certeza absoluta de que o seu adversário do botão está indo all-in por 150 big blinds com o leque “agressivo”, de 31% das mãos. Ora, se você estiver correto, então o PPP diz que é correto pagar até 165,7 BB. Você tem exatamente os 149,5 BB necessários para cobrir a aposta do botão, logo o call aqui é certo, e o fold seria um erro. Porém, não bastasse o botão estar gigante, o jogador no big blind está cobrindo vocês dois, com 200 BB. Será que esta informação basta para nos fazer largar esta mão que, de outra forma, nós jogaríamos?

Vamos ver. Daremos QsJs ao botão, uma mão pertencente ao leque que sabemos que ele está jogando. No confronto direto entre As8c e QsJs, As8c tem 54,2% de valor. Então, se o big blind largasse a mão, o pote final seria de 301 BB, e você sairia, em média, com 163,14 BB. Mas, e se o big blind entrar na mão?

A primeira coisa que devemos assinalar é que o botão jogou muito mal, que nem um maníaco. Ainda assim, ele foi um maníaco abrindo a mão no botão, o que é muito menos arriscado do que ser um maníaco pagando 150 BB de dois jogadores. Isto é, mesmo que o big blind esteja tiltado e tenha uma inclinação por tomar grandes riscos, será raríssimo ver um jogador nesta situação pagar com uma mão marginal. Por isso, vamos analisar duas opções: a de ele pagar os 149 BB com o leque “ultraconservador”, e a de ele pagar apenas com {KK+}.

Então temos dois potes triplos possíveis: As8c contra QsJs contra {JJ+, AKs, AKo}, e As8c contra QsJs contra {KK+}. No primeiro, nosso As8c tem 19,27% de valor do pote total de 450 BB, resultando em 86,72 BB. No segundo, nosso As8c tem 19,25%, resultando em uma expectativa de terminar a mão com 86,63 BB.

Então, quando o big blind paga, você tende a terminar a mão com menos de 87 BB, contra os 149,5 BB que você reteria se largasse. Mas isto só quer dizer que você deveria largar As8c se o BB tivesse um leque fortíssimo 100% das vezes (ele precisaria ter vários maços de ases na manga). O que vai acontecer muito mais frequentemente é um all-in entre você e o botão, que é lucrativo. Basta ver qual é a frequência em que o big blind entra pra estragar a festa, e saberemos quão bom é o call.

Num vácuo completo, em que não se saiba o paradeiro de nenhuma carta, há 1.326 mãos de hold’em (52 cartas x 51 / 2), e o leque “ultraconservador” contém 40 delas. Neste exemplo, porém, nós sabemos onde estão o As, 8c, Qs e Js, de modo que eles não fazem parte das mãos que ainda podem ser formadas. Agora as mãos que podem ser formadas são 1.128 (48 x 47 / 2), e o tamanho do leque “ultraconservador” também mudou, pois já não podemos formar mãos com As, Qs, nem Js. O leque, que antes continha 16 AK, e 6 de cada par de AA até JJ, agora contém 12 AK, 3 AA, 6 KK, 3 QQ e 3 JJ, totalizando 27 mãos. Vinte e sete são 2,39% do universo de 1.128 mãos possíveis, então o BB entrará na mão com o leque ultraconservador apenas 2,39% do tempo. A sua expectativa levará em conta esta frequência e ficará assim:

(2,39 x 86,72 + 97,61 x 163,14) / 100 = 161,31 BB

Ou seja, mesmo um call aparentemente arriscadíssimo de 149,5 BB com apenas A8o com o big blind podendo nos cobrir, continua tendo expectativa positiva se estivermos corretos acerca do leque do atacante. Nossa expectativa, que seria de terminar a mão com 163,14 BB se o big blind nunca pagasse, diminui apenas um pouco para 161,31 BB, mas continua sendo muito melhor do que os 149,5 BB que teríamos se fugíssemos. Veja bem: o fold é um erro grave nesta situação! Esteja atento para coisas parecidas nos seus jogos.

Agora, nós poderíamos fazer as mesmas contas para ver a nossa expectativa se o BB só jogasse {KK+}, mas você deve ter reparado que temos quase a mesma expectativa no all-in triplo (86,63 BB). Só que, agora, o BB entrará na mão com frequência muito menor, o que significa que o peso do all-in duplo (lucrativo) será ainda maior do que na conta anterior, e nossa expectativa será um pouco melhor.

Agora vamos dar 5c5d ao botão e {KK+} ao big blind. No all-in duplo, temos 44,73% de 301 BB, o que dá 134,64 BB. (Calma: não importa perdermos dinheiro contra o par de Cinco, mas sim o nosso desempenho contra todas as mãos do leque do botão.) No all-in triplo, temos 17,68% de 450 BB, resultando em 79,56 BB. O universo de mãos disponíveis para o leque é novamente de 1.128, e há 3 combinações de AA e 6 de KK, totalizando apenas 0,8% de ocorrências. Então repare o que acontece. Quando um adversário decide que só vai pagar os seus pushes com mãos fortíssimas, sucede que ele também só vai pagar com frequência baixíssima. Já sabemos que, entrando na mão apenas uma vez em 125, é impossível para o BB afetar seriamente a sua expectativa. Não se engane – nestes exemplos exatos, o BB está correto em jogar poucas mãos, devido ao tamanho das pilhas envolvidas; mas em situações menos extremas, a ampliação do leque de call contra um jogador agressivo é boa para o defensor e péssima para o atacante. Use o PPP para encontrar essas situações, e não tenha dó. Pois bem, a equação aqui é:

(79,56 + 124 x 134,64) /125 = 134,2 BB

Novamente, os dados mostrados no PPP permitem uma decisão correta, não importando se o BB nos pegar às vezes jogando A8o por 150 BB! Repare que estes são exemplos extremos (aposta gigante do botão; big blind cobrindo-nos). Se o big blind tivesse, por exemplo, 100 ou 70 BB, a situação seria ainda melhor para nós, pois o leque do BB dificilmente mudaria, eestaríamos jogando por 150 BB com vantagem, mas por apenas uma fração disto com desvantagem. 

P.S.: Só para constar, acrescento um exemplo bem mais realista do outro lado da moeda - com blinds grandes e um big blind disposto a pagar o push duplo com uma frequência maior. 

Desta vez temos antes em jogo. O pote inicial é de 2,3 BB e o botão vai all-in por 8 BB com o que você acredita ser o leque "agressivo" (que será muito mais comum para um jogador com 8 BB do que com 150 BB!). Você tem os exatos 7,5 BB necessários para cobrir a aposta dele no small blind, e o jogador no big blind tem mais do que ambos. Daremos Ks7s para você, e QcJd para o botão. Em vista da atividade, o BB decide que precisa duma mão do leque "conservador" para pagar. Ou seja, exigirá uma mão bem forte, mas ele não é bobo e já viu vocês dois jogarem agressivamente, de modo que acha que ele deve estar bem na mão mesmo com algo como KQo. 

Este exemplo é relevante porque agora o leque do BB é de 8,1% das mãos, o que significa que a sua presença se fará sentir com maior frequência na equação da expectativa. Por outro lado, as mãos deles serão mais fracas, em média, do que nos exemplos anteriores, o que significa que ele não diminuirá tão drasticamente a sua expectativa nos all-ins triplos. Como veremos, você novamente poderá seguir o conselho do PPP como se o BB não existisse.

Pois bem, no all-in duplo temos uma fatia de 58,44% do pote de 17,8 BB, resultando na expectativa de terminar a mão com 10,4 BB.

Já no all-in triplo nossa fatia será de 6,89 BB do pote final de 24,8 BB.

Novamente o leque do BB será parte dum universo de 1.128 mãos. As mãos contendo um Rei, Dama ou Valete serão menos frequentes, pois restam apenas 3 de cada no baralho. Neste exemplo, o leque "conservador" terá 6 AA, 3 KK, 3 QQ, 3 JJ, 6 TT, 6 99, 12 AK, 12 AQ, 12 AJ, 4 ATs, 9 KQ e 2 KJs, para 78 mãos, ou 6,91% do universo. 

Nossa equação de expectativa fica:

(6,91 x 6,89 + 93,09 x 10,4) / 100 = 10,15 BB

Novamente, muito próximo do resultado obtido se o BB nunca entrasse. Portanto, esteja você jogando diante de um push enorme ou numa situação mais típica de jogadores curtos num SNG, a presença de um (ou alguns) adversários que ainda possam entrar na mão depois que você ficar all-in é desprezível. 






















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